De todo este tempo com o Hugo e de todos estes anos de existência, este presente foi, talvez, o que mais significou para mim. Pela simplicidade, pela surpresa, pela pessoa que ofereceu, pelo significado que traz com ele. É um anel que eu já andava a namorar há algum tempo e é um dos que dei a entender ao Hugo que queria. Assim que fizemos 2 anos de namoro, esta foi uma das prendas que ele me deu.
Em toda a minha vida, foram várias as coisas que fui recebendo: nos meus anos, no natal, na páscoa, no dia da criança, ou num simples dia comum. Foram várias as coisas que me marcaram e várias as coisas que me deram jeito. Foram coisas caras, coisas baratas, coisas que não tiveram preço (não preço em numerário, mas sim em valor). E de todas elas, esta é a que guardo com mais carinho. É o meu acessório preferido, nunca saio sem ele e de todas as vezes que pensava que o tinha perdido, entrava em desespero. "Quem te mandou lavar as mãos depois de saíres da casa de banho?", "Quem te mandou tomar banho?" e mil e uma perguntas que faço a mim própria quando não sei onde o guardei. Com estas coisas, e depois de pensar ter perdido ou mo terem roubado na faculdade (mas afinal tinha-o guardado no bolso do casaco antes de lavar as mãos - porque o meu inconsciente acaba por ser mais consciente que o próprio), esquivei-me uma ou duas vezes de lavar as mãos em casas de banho de shoppings ou até da faculdade. Espero que as pessoas que me viram não pensem que sou uma porquinha, apenas percebam que o meu medo de perder este anel é maior que o que poderá acontecer se não lavar as mãos no WC.
Depois desta confissão muito bonita, acho que dá para perceber o quanto adoro este anel e o que ele significa para mim.
A cidade onde vivo
De todas as cidades que conheci, que confesso: não são muitas, esta é a que acaba sempre por me apaixonar. Vejo-a todos os dias, calco-a todos os dias, respiro-a todos os dias e é impossível fartar-me dela. Desde sempre que nunca percebi pessoas que dizem "estou farto/a do Porto"... Como?! Como é que consegues fartar-te desta cidade?
Da minha boca sempre se ouviu: não quero viver em sítio algum que não seja no Porto. Agora, as coisas são um pouco diferentes porque conheci Aveiro e apaixonei-me, assim como o Hugo, e acabamos por perceber que as casas lá são muito mais baratas, assim como o trânsito, as pessoas, tudo acaba por agradar com mais rapidez ao Hugo. Eu simplesmente adorei a cidade ao ponto de, provavelmente, considerar trocar o Porto por ela, por uns quantos aninhos.
Ao longo dos meus 20 anos, sempre disse que o meu maior orgulho é ter nascido aqui e ter crescido por cá. Conheci as melhores pessoas da minha vida nesta cidade, cresci a ouvir os milhentos palavrões por nós inventados, aprendi a gostar de tripas à moda do Porto - ou do arroz, do feijão e do molho -, aprendi a não me encher com meia francesinha, ensinei o significado de muitas expressões nossas a várias pessoas, e, com o tempo, fui perdendo sotaque mas nunca a essência.
O nosso S. João, a nossa passagem de ano, a nossa avenida dos aliados, as nossas ruas, os nossos azulejos, a nossa história... qual outra cidade seria melhor que esta?
Desde que entrei na faculdade - também no Porto - tive que lidar com pessoas que não eram de cá, e, consequentemente, com pessoas que me diziam "tens mesmo sotaque do Puuuorto", "diz isto, diz aquilo". A coisa mais engraçada que me disseram, é que, para além das línguas estrangeiras que falava, também sabia portuense, rio tintense e ramaldense.
Todos os dias passo por Santa Catarina: uma das ruas mais Porto do Porto. E todos os dias me encanto com todas as pessoas com pressa, todas as pessoas com um enorme talento, com todas as pessoas com um tom de voz elevadíssimo, todas as pessoas amáveis e todos os sorrisos que aparecem. Já sorri muitas vezes para estranhos, já muitos estranhos me sorriram, principalmente os mais velhinhos, que são os que com eles trazem todo o misticismo da hospitalidade desta cidade.
Nunca me sentirei mais em casa que cá, nem nunca saberei chamar de casa a outra cidade. Porque, apesar de tudo, nunca serei capaz de colocar cidade alguma acima da minha: o meu fantástico Porto.