30 de maio de 2015

I have a guardian angel, I call him grandpa

A despedida e o momento mais duro para mim foi aquele em que percebi que não te ia ver mais. Não chegou a ser uma despedida, porque eu nunca me despedi de ti. Nunca disse até já, até logo, até amanhã, até depois, até para a semana (o mais normal entre nós), até para o mês que vem, até para o ano. Não te disse nada. Não me despedi de ti. Não o fiz nem com um, nem com dois beijos. Não me lembro do que te disse no último dia em que falamos. Mas lembro-me do que te disse no último dia em que te vi. Foi no dia a seguir à noite em que devo ter chorado mais na minha vida. Foi no dia a seguir a ter recebido a pior notícia que me lembro. Foi no dia em que te vi deitado e que quase que era obrigatório despedir-me de ti. Não o fiz, apenas me cheguei perto de ti e disse baixinho que te adoro. Também me lembro do que te disse no último dia em que falei contigo. “Contigo”, porque eu não sei se falei para alguém me ouvir, eu não sei se continuas comigo, se continuas a olhar por mim, eu não sei. É tudo tão incerto, mas eu quero acreditar que sim, que me estás a ver e que estás a perceber todo o esforço que estou a fazer para que estejas orgulhoso de mim. 
Disse-te que tinha saudades tuas e não foi assim há tantas horas. Ainda tenho, daqui a uma semana ainda vou ter, para o ano ainda devo ter mais e terei para sempre. Nunca vou aceitar o facto que me deixaste, que te perdi e que nunca mais vais estar sentado na sala à minha espera, que nunca mais vou acordar contigo a fazer a barba às 7h da manhã. Se voltasses eu acordava todos os dias às horas que fossem só para saber que já tinhas acordado e que te estavas a preparar para ir dar o teu passeio da manhã pela praia ou simplesmente ao shopping. Eu nem sequer dormia se assim fosse preciso. Faria tudo o que tivesse que ser para voltar a ter-te comigo. Quase que adivinho o que dirias agora se me visses a chorar, e eu precisava tanto disso, de te ouvir e de me aconchegar em ti.
A primeira vez que chorei a sério e às escondidas foi há uns anos, tu ouviste-me a soluçar e vieste-me perguntar o que se passava, eu não contava e tu entraste em desespero, ligaste para a minha mãe a perguntar o que era suposto fazeres porque eu não queria falar. A partir daí foste conseguindo lidar com tudo o que tinha a ver comigo. Sempre te esforçaste por isso. Cresci em tua casa, contigo e com a avó e nunca desististe de me saber educar e de te moldares a mim. Não me pedias ou impingias regras. Eu não tinha que me comportar como tu querias porque eu não fazia nada que, a teu ver, fosse mal feito e se por acaso fizesse tu sabias lidar com isso tão naturalmente.
Se tive uma “má infância” não foi por tua causa porque fizeste tudo para me dar o melhor que conseguias. Aliás, eu prefiro nem pensar que a minha infância foi má, simplesmente foi diferente e foi a melhor que podia ter tido porque foi do teu lado. Foi contigo que cresci e aprendi a ser alguém. Foi contigo que percebi o que era a vida e o que era suposto fazer dela e nela também. Nunca me faltou nada e sinceramente até acho que tive demais porque tu não sabias não ser bom para mim. Embora tenha ouvido alguns nãos vindos de ti, tu não me sabias dizê-los, o máximo que me sabias dizer era um não sei, ou um talvez que pouco depois se tornava num sim. Quando me dizias um não, eu via em ti um “tinha de ser, mas não queria”. E tinha mesmo. A melhor educação que podia ter tido eu tive, graças a ti e à avó.
Ainda dizem que a avó continua a mimar-me muito mas acho que é a maneira dela de compensar a falta que me fazes. Também lhe dás uma certa dor, uma certa grande dor. Ela sofre muito por não te ter cá todos os dias perto dela, mas ninguém a deixa ir abaixo. Às vezes fala de ti muito assertiva mas se deixarmos passar algum tempo a voz dela começa a tremer. Fazes falta a toda a gente que teve a sorte de te ter na vida.
Gostava tanto que me visses agora, já passou quase um ano e meio e em tão pouco tempo as mudanças foram imensas. Gostava que visses o quão feliz tenho estado, mesmo que sem ti, tenho conseguido lutar pelas coisas que me fazem feliz. Não sei se o termo certo é “sem ti” ou “por ti”, porque a minha força aumentou uns 200% desde que partiste. Tenho conhecido boas pessoas, também tenho conhecido pessoas que não valem a pena mas no meio disto tudo sinto-me bem e sinto que tenho quem preciso do meu lado. Só faltas tu. E vais sempre faltar.

2 comentários

  1. Comecei a ler e vieram-me as lágrimas aos olhos. Também perdi alguém que foi como um avô para mim e custou ler o teu desabafo. Mas ao mesmo tempo não podia deixar de ler. Tal como tu, também lhe dediquei uma tatuagem, e desejo todos os dias por mais 5 minutos que fossem... Mas ele esta comigo, tal como o teu avô esta contigo, esta sempre. Ainda a tomar conta, como sempre tomou.
    A tua tatuagem esta linda, e esta dedicatória também.

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  2. Não conhecia o teu blog mas gostei imenso :)

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