17 de dezembro de 2013

e é por ficar muito tempo a contemplar textos assim durante o teste que tiro notas de caca a português

"Se te dizem que faças o que quiseres, a primeira coisa que parece aconselhável é que penses com tempo e a fundo o que é aquilo que queres. Apetecem-te com certeza muitas coisas, amiúde contraditórias, como acontece com toda a gente: queres ter uma moto, mas não queres partir a cabeça no asfalto, queres ter amigos, mas sem perderes a tua independência, queres ter dinheiro, mas não queres sujeitar-te ao próximo para o conseguires, queres saber coisas e por isso compreendes que é preciso estudar, mas também queres divertir-te, queres que eu não te chateie e te deixe viver à tua maneira, mas também que esteja presente para te ajudar quando necessitas disso, etc. Numa palavra, se tivesses que resumir tudo isto e pôr sinceramente em palavras o teu desejo global e mais profundo, dir-me-ias: «Olha, pai, o que eu quero é ter uma vida boa.» Bravo! O prémio para este senhor! Era isso mesmo o meu conselho: quando te disse «faz o que quiseres», o que, no fundo, pretendia recomendar-te é que tivesses o atrevimento de teres uma vida boa. (…) Queres ter uma vida boa: magnífico. Mas também queres que essa vida boa não seja a vida boa de uma couve-flor ou de um escaravelho, com todo o respeito que tenho por ambas as espécies, mas uma vida humana boa. É o que te interessa, creio eu. E tenho a certeza de que não renunciarias a isso por nada deste mundo. Ser-se humano, já o vimos antes, consiste principalmente em ter relações com outros seres humanos. Se pudesses ter muito, muito dinheiro, uma casa mais sumptuosa do que um palácio das mil e uma noites, as melhores roupas, os alimentos mais requintados (…), as aparelhagens mais perfeitas, etc., mas tudo isso à custa de não voltares a ver nem a ser visto – nunca – por um outro ser humano, ficarias satisfeito? Quanto tempo poderias viver assim sem te tornares louco? Não será a maior das loucuras querermos as coisas à custa da relação com as pessoas? Mas se justamente a graça de todas as coisas de que falámos assenta no facto de te permitirem – ou parecerem permitir – relacionares-te mais favoravelmente com os outros! (…) Muito poucas coisas conservam a sua graça na solidão; e se a solidão for completa e definitiva, todas as coisas se volvem irremediavelmente amargas. A vida humana boa é vida boa entre seres humanos ou, caso contrário, pode ser que seja ainda vida, mas não será nem boa nem humana."

Fernando Savater, Ética para um Jovem

3 comentários

  1. julgo que já estive com este livro na minha mão e adorei umas passagens. tenho de ver se junto uns trocos porque adoro este tipo de coisas.
    é natural que isso tenha acontecido porque eu tenho arranjado uma série de problemas com o espaço, o que faz mudar de endereço. e como não posso andar "por aí" a falar disto, acabei por me isolar um bocado. mas ainda bem que descobriste porque é da maneira que agora nos matemos em contacto dan *-* (quem me dera que todos os meus seguidores me reencontrassem sem eu ter de dizer nada)

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  2. Também tenho este livro para ler! Pelo que me tenho apercebido através de opiniões de colegas que leram, é bastante interessante. Vou ver se o leio nas férias :)

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  3. Obrigada pelo comentário que fizeste, Dan.! És uma querida, muita força! ♥

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